Por Eduardo Vasco e Victor Assis, no DCO:
A empresa Positivo Tecnologia venceu a licitação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para o fornecimento das urnas eletrônicas para o processo eleitoral de 2022.
O anúncio foi feito na última segunda-feira (27) pela companhia, que era a única habilitada para participar da licitação do TSE. A reportagem tentou entrar em contato com a assessoria do TSE para questionar o motivo da falta de concorrência com a Positivo, mas não foi atendida.
De acordo com o jornal Gazeta do Povo, o único interessado na licitação, além da Positivo Tecnologia, teria sido o consórcio SMTT, formado pelas empresas Smartmatic e Diebold. Contudo, “a disputa licitatória arrastou-se por entre os anos de 2019 e 2022, uma vez que ambas as concorrentes não cumpriam as especificações técnicas do edital, conseguindo na Justiça o direito de apresentar novas propostas. A empresa paranaense, então, sagrou-se vencedora após apresentar o melhor desempenho técnico e também oferecer a proposta mais barata”.
A previsão é que a Positivo forneça 176 mil urnas eletrônicas e outros produtos, pela bagatela de 1,18 bilhão de reais.
A Positivo foi fundada em 1972 pelo empresário Oriovisto Guimarães, hoje senador pelo Podemos ─ mesmo partido do ex-juiz Sergio Moro e do ex-procurador Deltan Dallagnol, cujo esquema ilegal na Operação Lava Jato foi revelado pelo portal The Intercept. Oriovisto é natural de São Paulo mas desde pequeno é radicado no Paraná, onde fez sua carreira.
O grupo trabalha em duas áreas de atuação: a Positivo Educacional, que controla um importante curso pré-vestibular e edita materiais escolares, e a Positivo Tecnologia, fabricante de produtos eletrônicos como computadores e celulares.
Oriovisto deixou a presidência do Grupo Positivo em 2012, após 40 anos à frente da empresa. No entanto, seu sucessor e atual diretor-presidente da companhia é Hélio Bruck Rotenberg, considerado seu braço direito. O filho mais velho de Oriovisto, Giem Raduy Guimarães, integra o conselho do Grupo Positivo e outro de seus filhos, Lucas Raduy Guimarães, é presidente da Positivo Educacional.
Segundo outra reportagem do jornal paranaense, a decisão de Oriovisto de se afastar publicamente da empresa teria coincidido com o momento em que a Positivo passou a assumir mais intensamente contratos com o Poder Público, “vencendo uma série de licitações de órgãos de administração”.
Enquanto Oriovisto ainda presidia o grupo, Deltan Dallagnol estudou no curso pré-vestibular da Positivo Educacional, tendo sido aluno do empresário, e ainda foi premiado com um carro popular ao passar no vestibular.
Entre 1999 e 2018, Oriovisto Guimarães foi filiado ao PSDB. No entanto, abandonou o partido para, no mesmo ano de 2018, ingressar no Podemos, sigla de seu amigo Álvaro Dias ─ quem o tentara convencer de se candidatar à prefeitura de Curitiba quando os dois pertenciam ao PSDB, e também quem o levou para o novo partido. O Podemos, assim como outros partidos menores da direita brasileira, é uma espécie de filial ou apêndice do PSDB.
Outra amizade de Oriovisto conhecida pelo público é com o próprio Sergio Moro, cujo nome deverá constar nas urnas que serão fabricadas pela Positivo. Ao ser questionado sobre essa relação, o senador preferiu alegar que não tinha mais vínculos com a Positivo, mesmo a empresa estando sob domínio de sua família. “Eu não tenho relação com o Grupo Positivo desde 2012, muito antes de eu querer me tornar senador”, comentou no último dia 21 em sua conta no Twitter.
Em seu site pessoal, Oriovisto ainda descreve a Lava Jato como “a melhor coisa que poderia ter acontecido para o Brasil”.
O senador é apontado como um dos maiores entusiastas e um dos principais articuladores da pré-campanha de Moro para as eleições de 2022. Sua importância nos bastidores do partido de Álvaro Dias rendeu a Oriovisto a alcunha, dada pelo portal Terra, de “o senador por trás da estratégia do Podemos”.
Outros acionistas
Na época em que Oriovisto Guimarães repassou a empresa aos seus filhos, foi divulgado o nome de outros sete acionistas, quase todos de uma mesma família: Samuel Ramos Lago, Ruben Tadeu Coninck Formighieri, Cixares Libero Vargas, Hélio Bruck Rotenberg, Samuel Ferrari Lago, Paulo Fernando Ferrari Lago e Thais Susana Ferrari Lago.
Ao menos três deles estariam envolvidos em escândalos relacionados ao Poder Público. Em 2020, o prefeito de Curitiba, Rafael Greca (DEM), mandou comprar por quase 6 milhões de reais, e sem licitação, 12 reproduções de esculturas de bronze do artista paranaense João Turin. As obras estavam sob a posse de Samuel Ferrari, que atua também como produtor cultural. Segundo o The Intercept, as obras valeriam menos de 10% do que foi repassado por Rafael Greca.
Enquanto era prefeito de Manaus, o tucano Arthur Virgílio Neto viu os empresários Cixares Libero Vargas e Buben Tadeu Coninck Formighieri doarem uma bagatela de quase 500 mil reais para a campanha de seu filho, o deputado federal Arthur Bisneto (PSDB). Coincidentemente, os empresários, que são donos da Positivo, tinham um contrato milionário junto à prefeitura.
Já em 2014, Cixares Libero Vargas e Buben Tadeu Coninck Formighieri apareceram como doadores da campanha de Arthur Virgilio Biseto (PSDB) para deputado federal pelo Amazonas. A imprensa chamou a atenção à época de que a Positivo tinha um contrato milionário com a prefeitura, comandada por seu pai, Arthur Virgilio Neto (PSDB), no momento em ocorria a campanha eleitoral.
Ataque hacker
Uma das principais preocupações a respeito da segurança das urnas eletrônicas é a possibilidade de serem invadidas por hackers.
A Positivo não tem um histórico muito… positivo a respeito disso. Em outubro do ano passado, a Positivo Educacional foi vítima de um ransomware, um vírus que sequestra dados do sistema invadido e pede resgate financeiro. Esse foi o mesmo tipo de ataque sofrido pelo sistema do Ministério da Saúde no início deste mês, que derrubou sites ligados à pasta e o aplicativo ConecteSUS.
Segundo reportagem da agência de notícias AFP, apenas 15 de 190 países utilizam a urna eletrônica. Por sua vez, somente o Brasil e alguns locais dos EUA, França e Namíbia rejeitam o comprovante do voto em papel.
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