Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia:
Não, o vírus não foi tão cruel com ele, Jair Bolsonaro, quanto o foi com 115 mil brasileiros. Nem todos tiveram alimentação adequada, chance de ser educado pelo Exército Brasileiro – que nós sustentamos – e, tampouco, acesso às aulas de Educação Física a que o capitão quase expulso das fileiras que o formou – vive a atribuindo o vigor que tem.
A saúde no Brasil andou precária desde que o Michel passou pelo governo na condição de “zelador”. O tema não interessava aos seus “chefes”, mais preocupados com as oscilações da bolsa e em dar satisfações ao FBI e à CIA –, de quem documentos da Wikileaks o apontam como agente. Michel não só abandonou investimentos na rede pública de saúde, como alterou a Constituição para que os vindouros na “função” também não os fizessem. (Diga-se de passagem, o seu substituto não estava nem aí pra isto).
Veio então aquele ministro, que depois de levantar no Congresso uma placa dando “tchau querida” a uma presidente eleita por 54 milhões de brasileiros, foi pego de surpresa por uma pandemia e, até que Bolsonaro lhe desse um “tchau querido”, vestiu o colete do SUS. Bem que ele tentou desmontar tudo, dando continuidade ao trabalho de Michel, mas veio o coronavírus e foi a rede pública que o socorreu. Não são rancorosos os profissionais da Saúde. Jogaram-se de corpo e alma no combate à pandemia.
Em solenidade intitulada “Brasil Vencendo a Covid”, no Palácio do Planalto, (nesta segunda-feira, 25/08) no rigor do cargo, do púlpito de onde ex-presidentes já fizeram anúncios importantes para o país, Bolsonaro preferiu contar uma história onde deveria parecer herói, para corroborar o seu porte “atlético” – embora a barriga comprimida dentro do paletó fosse prova concreta do contrário.
Ressentido – seu estado natural – atacou mais uma vez a imprensa, chamando a todos os profissionais da área de “bundões”. Sim, somos. E somos tanto que ainda não o arrancamos de lá a tapa, (numa linguagem que ele entende bem), porque para nós, acima de tudo, estão os ditames da Constituição, a disciplina da profissão e o sentimento do dever, que a ele escapa.
Na véspera, Bolsonaro já havia prometido encher a boca de um jornalista de O Globo de “porrada”. Nem “porrada”, nem “bundões”, são palavras que constariam dos discursos de Marco Túlio Cícero, o grande tribuno, mas Bolsonaro com certeza não deve saber quem foi este senhor, e por isto adota o seu palavreado desclassificado para se dirigir à Nação. Sim, porque apesar de ignorar, a cada cerimônia pública, não é aos seus convidados que ele dirige a palavra. É ao povo brasileiro. Este mesmo, que alega tê-lo elegido (e infelizmente a nós, que nunca, jamais, o elegeríamos).
Mas o que o distinto público não sabe, é que além das duas agressões aos jornalistas – pois quando ele agride um, é a todos que ele está agredindo -, há muito mais acontecendo sobre os tapetes do Planalto do que pode supor a população.
Hoje cedo, com voz arfante, com toda a carga que o momento exige, um amigo fotógrafo de alguns anos em Brasília, me confidenciou: “amiga, você não sabe o que estamos passando. São situações que nós não vimos nem na época dos militares no poder”. E, cheio de indignação, revelou que durante a solenidade em que fomos chamados de “bundões”, eles tiveram que trabalhar – cada fotógrafo – tendo atrás de si um “soldadinho” com uma câmera. “Qual o propósito disto?”, indaga queixoso o amigo e profissional, emocionado. “Só posso entender que ele quisesse vigiar e ter o controle de cada clique que nós dávamos. Isto é loucura!”, exclama. Não tenho alternativa se não concordar. E, sim. O ponto de exclamação voltou para ficar, em tempos de perplexidade absoluta. Diante do seu relato eu só posso sugerir aos vários veículos da mídia que inaugurem a “editoria de bundões” ou a “editoria de relatos do espanto!”
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