Partidos da direita golpista tradicional, rejeitados pela população, e seus satélites, conquistam mais de 4.500 prefeituras e tentam barrar polarização
No DCO:
Um primeiro balaço das eleições, com os dados quase completos do primeiro turno, evidenciam um processo profundamente fraudulento no qual a direita golpista – que em geral se apresenta como “centro”- conseguiu impor seus planos de garantir para si o controle da imensa maioria das prefeituras do País, mesmo em meio de um profundo retrocesso e seguidas derrotas em cinco eleições nacionais , quatro delas para a esquerda liderada pelo Partido dos Trabalhadores (de 2002 a 2014) e a quinta e última para a extrema direita liderada por Bolsonaro (2018) que acabou sendo apoiado por toda a direita para impedir uma nova vitória do candidato petista.
Os principais partidos deste verdadeiro “centrão” que comandou o golpe de Estado que derrubou a presidenta Dilma Rousseff (2016), impulsionou a criminosa operação lava jato para condenar e prender ilegalmente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tomou a iniciativa de aprovar no Congresso Nacional – bem como nos governos estaduais e municipais – todo tipo de ataque contra a população trabalhadora (“congelamento” dos gastos públicos, “reformas” trabalhista e da Previdência etc.) e – jato com Bolsonaro – está levando adiante o maior genocídio da história recente do País com quase 170 mil mortos, conquistaram mais de 4.500 prefeituras (mais de 80% do total) dos quais cerca de 3100 foram conquistadas pelos cinco principais e tradicionais partidos da direita golpista:
MDB – 772 cidades
PP – 680 cidades
PSD – 650 cidades
PSDB – 511 cidades
DEM – 459 cidades
Neste bloco reacionário, os partidos oriundos da própria Arena (o partido da ditadura militar), DEM, PP e PSD, foram os que aumentaram significativamente na repartição do “bolo”, abocanhando quase 500 prefeituras a mais do que detinham em 2016, de acordo com os resultados do primeiro turno, chegando a 1789 governos municipais.
Este resultado foi imposto por meio de um conjunto de medidas ditatoriais que praticamente impediu a existência de uma verdadeira campanha eleitoral. Por meio da “reforma” eleitoral, de 2017 (logo após o golpe de Estado de 2016) e do controle sobre o judiciário golpista (que “reinou” absoluto sobe as eleições), essas poderosas máquinas da direita dominaram o horário eleitoral, garantiram melhores condições para a reeleição e eleição de seus candidatos, em sua maioria das tradicionais máfias políticas burguesas do País.
Em uma “campanha” com inúmeras restrições, com um terço dos partidos jogados para fora do horário eleitoral do Rádio e TV, outro terço limitado a segundos de programas diários, as eleições foram colocadas – de fato – nas mãos da imprensa capitalista, monopólios privados, ligados aos partidos tradicionais da burguesia golpista que, desde o começo do processo eleitoral trataram de apontar quem eram os candidatos que povo poderia “escolher”.
Valendo-se de pesquisas ultra fraudulentas (mais falsificadas do que nunca), a direita buscou “abafar” a polarização presente na situação política, puxada pela esquerda como representante da revolta crescente da população trabalhadora, em primeiro lugar, contra esses políticos e partidos tradicionais e seu governos, e que evoluiu pela direita sob a liderança improvisada de Bolsonaro (também ele uma expressão da revolta como partidos tradicionais).
Contando com o apoio explícito da esquerda burguesa e pequeno burguesa que não denunciou o esquema fraudulento e fez coro com a direita de que estávamos vivendo um “processo democrático”, uma “festa da democracia, a direita levou adiante seu plano de usar as eleições como base de seus política de reorganização com vistas à recuperação do comando do Estado nacional em 2022, por meio de uma “frente de oposição” a Bolsonaro, que pode ser integrada por golpistas dos mais diversos matizes, inclusive, ex e atuais integrantes do governo Bolsonaro, como Sérgio Moro e general Mourão.
Dois dos partidos mais beneficiados pelo esquema eleitoral armado pela direita golpista, inclusive, o PP – que saltou de 546 para 664 prefeituras conquistadas em primeiro turno, e o PSD, de 495 para 630 – são parte do bloco parlamentar do “centrão”, oficialmente aliado ao governo Jair Bolsonaro (sem partido), contando com ministérios e outros cargos.
Assim, afirmar que as eleições representam uma “liquidação” de Bolsonaro como fizeram certos setores, constitui um exagero, servindo – de fato – podendo seus resultados, inclusive, seus resultado serem usados por estes e outros setores para uma renegociação com o próprio presidente ilegítimo para uma composição em novas bases que lhes seja mais favorável.
Além disso, é preciso relativizar a derrota de Bolsonaro, uma vez que o mesmo, há quatro anos, não dispunha de partido algum, nem de uma frente de uma composição política acertada com partidos tradicionais da burguesia que lhe apoiassem. Agora, candidatos e partidos que tem maior proximidade com sua politica reacionária e fascista conquistaram algumas centenas de prefeituras (como o Republicanos, com 209; o PSL, com 90, o Patriota, com 49, entre outros) e candidatos com seu apoio explícito obtiveram alguns milhões de votos pelo País afora, defendendo seu governo genocida.
É claro que os partidos mais poderosos da burguesia entreguista e pró-imperialista tiveram um certo êxito, mas isto – nem de longe – significa que a violenta crise no interior da burguesia e a polarização política está de fato estancadas, muito pelo contrário, elas tendem a evoluir diante da evolução da crise econômica e da aproximação das eleições de 2022.
No outro pólo da situação, também é propositalmente exagerada e falsa a “tese” propalada pela direita e sua venal imprensa de que o PT e seu principal líder Lula, estariam mortos, por conta do resultado eleitoral deste ano. Ate o momento, conquistou 174 prefeitura, contra 254 em 2016, ano em que sofreu um violento retrocesso por conta do golpe de Estado, depois de ter sido eleito para 638 prefeituras, em 2012, quando ser o terceiro partido com maior número de prefeituras, atrás do MDB e do PSDB.
O retrocesso do PT e de outros setores da esquerda com maior presença eleitoral, além de serem um produto do processo fraudulento imposto nas eleições, são o resultado da capitulação política desses setores diante do golpe e de todas as articulações golpistas, cuja melhor expressão – neste momento – é o apoio de ampla setores dessa esquerda à política da direita de frente ampla, de unidade com os maiores algozes do povo brasileiro (e da própria esquerda), como defendem e praticam a direita do PT, o PCdoB e o PSOL.
Longe de serem um resultado “natural”, da conquista de uma maior apoio popular por parte da “direita civilizada”. (genocida, obscurantista, racista etc.), o que temos aqui é o produto momentâneo de uma situação defensiva que essa esquerda impôs a si e ao movimento de luta dos explorados, diante do golpe, do avanço da extrema direita, das manobras da direita golpista, o que levou, por exemplo, ao fechamento dos sindicatos, à frente com os governos genocidas na questão da pandemia, ao lançamento de candidaturas sem nenhum identidade com a luta dos trabalhadores (e até das forças de repressão às suas lutas) etc. etc.
De um modo geral, está em curso uma grande manobra – e as eleições municipais são parte dela – , semelhante à que foi colocada em prática nos Estados Unidos com a provável confirmação da vitória do candidato democrata, Joe Biden, apresentado ao mundo como o representante da “civilização” contra a barbárie (Trump). Aqui no Brasil, a mesma fraudulenta manobra está em curso para isolar os representantes dos extremos (Lula e Bolsonaro), com o propósito de viabilizar uma frente reacionária (frente ampla) como alternativa às eleições presidenciais de 2022.
Os trabalhadores e a esquerda classista precisam intervir contra essa armação, defendendo um saída própria diante da crise, a luta pelo Fora Bolsonaro e todos os golpistas precisa ganhar as ruas, junto com a busca da unidade em torno de uma perspectiva independente, a defesa da restituição dos direitos políticos de Lula e da sua candidatura presidencial, capaz de impulsionar uma ampla mobilização contra a direita golpista.
Comments