Por Moisés Mendes, em seu blog:
O adiamento das prévias do PSDB empurra o partido para o purgatório das suas indecisões. Para muito além das questões técnicas do aplicativo de votação, o PSDB adiou a escolha do candidato de 2022 porque assim enterra a cabeça na areia diante das opções que tem pela frente.
É nesse purgatório, com os tucanos agindo como se fossem avestruzes da terceira via, que o partido ficará acomodado, até que alguns líderes tenham a coragem de definir uma nova data e encarar uma escolha apavorante.
O PSDB apenas fingiu que não sabe fazer uma eleição interna com menos de 45 mil filiados. Porque não queria saber da verdade dessas prévias agora.
Um partido que não consegue dar utilidade a um aplicativo para votação interna, por ser incapaz de fazer a encomenda certa aos desenvolvedores do sistema, não pode achar que tem condições de governar um país com 212 milhões de habitantes.
Mas o PSDB sabia, desde o começo das suspeitas de que o aplicativo não funcionaria direito, que as prévias não seriam completadas. O partido tem medo da realidade no seu futuro imediato.
Os tucanos se comportam como um paciente às vésperas de um exame que deverá ser revelador de notícias ruins. E a notícia ruim viria com Doria ou com Leite.
Por isso o aplicativo não funcionou. Se as prévias tivessem dado certo, eles estariam agora com os olhos arregalados diante do paulista ou do gaúcho, sabendo que os dois são fardos pesados.
Doria, o homem da CoronaVac, ainda não conseguiu capitalizar nada do que o início da vacinação representou como afronta ao bolsonarismo e ao negacionismo e como esforço bem sucedido em favor da saúde pública.
E Eduardo Leite é, pela marca mais recente que leva na testa, o governador que se submeteu às ordens do general Luiz Eduardo Ramos para que levasse um recado a quem seria mais adiante seu adversário nas prévias.
Leite, por fraqueza como político, fracassou na empreitada que lhe foi entregue pelo general de Bolsonaro, para que Doria suspendesse em janeiro o começo da vacinação, enquanto morriam mais de 900 brasileiros por dia.
O tucano gaúcho está marcado como cúmplice de Bolsonaro na tentativa de sabotagem da vacina. E, ao mesmo tempo, fica como alguém frouxo para levar a missão com êxito até o fim, pela própria incompetência como mensageiro.
O PSDB está diante dessas escolhas. Um governador que não empolga com o marketing da sua vacina, e outro que constrange e envergonha por ter tentado boicotar a vacina do colega de partido.
O adiamento das prévias é na verdade a desculpa para que a decisão seja empurrada com a barriga, ou com a asa da direita que não sabe que via quer da vida.
Entre Doria e Leite, é provável até que certos tucanos desejassem mesmo ficar com Sergio Moro, que já melhorou a voz e pode crescer nas próximas pesquisas como candidato de ex-bolsonaristas, fazendeiros, banqueiros, grileiros, milicianos e classe média.
A ressaca é destruidora. A não realização das prévias do PSDB seria apenas um fiasco, se a falha não estivesse no roteiro. A pane não foi programada, mas foi tão desejada que aconteceu na hora certa.
Ninguém vai encontrar, nas notícias com cabos eleitorais dos dois candidatos, alguém que manifeste frustração. Há um sentimento de alívio.
A base do PSDB gostaria que a decisão sobre o candidato fosse no par ou ímpar, ou não teria oferecido apenas 44,7 mil filiados habilitados a votar, num contingente de 1,3 milhão.
Os outros, da imensa maioria que preferiu olhar as prévias com desprezo e ficar de fora da escolha, nem querem saber como usar o aplicativo pifado. Querem mais é aprender a usar o TikTok.
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