O povo brasileiro pegou um esporte criado pelos europeus e o transformou em uma nova modalidade. Uma transformação que só é possível graças aos grandes movimentos das massas.
No DCO:
No próximo dia 23 de outubro, o maior jogador de futebol da história, Edson Arantes do Nascimento, completará 80 anos de idade. O aniversário de Pelé é uma boa oportunidade para colocar em debate a polêmica em torno da importância do futebol brasileiro não apenas para o desenvolvimento do esporte mais popular do mundo, mas para a própria cultura nacional.
Os brasileiros foram os responsáveis por transformar o futebol em arte. O povo brasileiro, mais especificamente o povo pobre, negro e trabalhador, pegou um esporte criado pelos europeus e o transformou em uma nova modalidade. Esse fato é um fenômeno de massas, uma transformação que só é possível graças aos grandes movimentos das massas.
Pelé é o cume dessa arte. Após décadas de desenvolvimento, o futebol brasileiro – e consequentemente o futebol como um todo – atingiu seu ponto mais alto com a geração de Pelé entre as décadas de 50 e 70.
Por isso mesmo, Pelé é uma espécie de “símbolo” nacional. Um brasileiro, negro retinto, vindos das camadas mais pobres da população, se transformou no maior jogador de futebol de todos os tempo, reconhecido por todo o mundo.
Esse reconhecimento, no entanto, esbarra nas contradições da própria formação da sociedade brasileira. Sendo um país atrasado e colonizado, há uma enorme pressão por parte do imperialismo contra qualquer tentativa de consolidação de uma cultura nacional genuína. Não se deve confundir essa luta com um problema meramente cultural. Para o imperialismo, trata-se de manter um país como o Brasil sob controle.
A dominação cultural é uma expressão na superfície da dominação econômica. O brasileiro não pode ter orgulho de suas conquistas, não pode haver um sentimento nacional que fortaleça o povo contra essa dominação imperialista.
No futebol, essa luta é ainda mais importante pois se trata de um esporte que gera milhões todos os anos.
Desse modo, a imprensa capitalista, uma sucursal do imperialismo no País, difunde a ideia de que ao futebol brasileiro não teria tanta importância assim. Essa ideologia recai em primeiro lugar sobre os próprios jogadores que acabam encarnando o futebol.
É nesse marco que Pelé, em que pese as homenagens e demagogia feita pela burguesia, é frequentemente atacado. Procuram desmoralizar sua posição indiscutível como jogador de futebol, ora trazendo à tona questão pessoais – muito questionáveis, por sinal – ora simplesmente procurando outro jogador para contrapor à sua realeza no esporte.
A classe média – de esquerda e de direita – é a correia de transmissão dessa ideia estapafúrdia de que Pelé não é o maior do mundo. Contrariando o “óbvio ululante” sobre o futebol brasileiro tão bem definido por Nelson Rodrigues, criam um mundo paralelo em que vale contrapor a Pelé qualquer outro jogador que a rigor não seria sequer passível de comaração.
O objetivo dessa tentativa de rebaixar o jogador brasileiro é atacar o povo brasileiro de conjunto e a cultura nacional. Esse é o sentido dessa ideologia. A mesma coisa acontece atualmente com o próprio Neymar, guardadas as proporções.
É por isso que uma tarefa essencial da esquerda e do movimento operário brasileiro é defender a cultura genuinamente nacional e popular.
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