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Alagoas Território Livre

O “civilizado” Mourão comemora a barbárie contra o “comunismo”

Na última quarta-feira (31), o vice-presidente da República Hamilton Mourão, juntando-se às comemorações feitas pelo presidente fascista Jair Bolsonaro, publicou, em suas redes sociais, uma homenagem à ditadura miliar:


“Neste dia, há 57 anos, a população brasileira, com apoio das Forças Armadas, impediu que o Movimento Comunista Internacional fincasse suas tenazes no Brasil. Força e Honra!”


Seu teor é indiscutivelmente fascista. Trata-se da defesa aberta de todas as mortes, torturas e prisões de um regime político que supostamente teria como objetivo impedir o desenvolvimento de uma ideologia contrária. Sendo essa ideologia o comunismo, que é a causa da classe operária, trata-se, portanto, da defesa de um regime que agia com a mais extrema violência e brutalidade contra a classe operária. Como Trótski definiu, o fascismo tem como fim destruir a democracia operária, e é justamente isso que Mourão está celebrando.


Essa posição vinda da alta cúpula das Forças Armadas não deveria causar espanto. Afinal de contas, a ditadura militar é uma ditadura em que um setor da burguesia — em geral o imperialismo — manipula os militares para que imponham a sua política duramente. A ditadura militar teve o programa econômico do imperialismo, mas precisou contar com a força bruta dos militares para reprimir qualquer oposição a esse programa. Como nenhum militar foi julgado desde o fim da ditadura, nada mais natural, também, que os militares que hoje ocupam os cargos de comando sejam, portanto, golpistas e fascistas.


Contudo, tem chamado a atenção que um setor da esquerda pequeno-burguesa, sobretudo aquele que mais defende a “frente ampla”, considera Hamilton Mourão como uma espécie de gentleman, um político “civilizado” que apresenta bom senso, em oposição ao fascista Jair Bolsonaro. Um dos representantes da “frente ampla” que não teve qualquer receio em falar abertamente que Hamilton Mourão seria um aliado na “luta contra o fascismo” foi o governador maranhense Flávio Dino (PCdoB-MA):


“Mourão no lugar de Bolsonaro é trocar a barbárie pela civilização” (Valor Econômico, 26/03/2021).


Note-se, pela própria construção da frase, que a comparação de Dino entre Bolsonaro e Mourão não é à toa, mas sim levando em consideração um cenário bastante concreto. O governador não considera simplesmente que Mourão seja uma pessoa mais civilizada — o que já é um ultraje à inteligência de qualquer um. Na verdade, Dino considera que a substituição do governo Bolsonaro por um eventual governo Mourão seria a expressão de um estágio superior da sociedade. O que quer dizer tamanho absurdo?


No final das contas, que Dino tem a burguesia como bússola política para seus objetivos. Se o governo Bolsonaro é a barbárie — e de fato é algo neste sentido —, evoluir para a civilização seria, certamente, um objetivo de Flávio Dino. Seria para isso que o governador maranhense, suponhamos, tem uma atuação política. Mas esse objetivo, colocado desta maneira, depende fundamentalmente da burguesia: a substituição de um governo Bolsonaro por um governo Mourão é uma manobra que só pode ser realizada pela classe dominante. Para a classe operária, nem Bolsonaro, nem Mourão são expressão da “civilização”.


Flávio Dino, portanto, considera que a “luta contra a barbárie” seria, na verdade, o mesmo que apoiar a burguesia em sua política. Trata-se, portanto, de uma política de nulidade total: a esquerda que tem como política apoiar o programa da direita perde a necessidade de existir.


E qual seria, finalmente, o conteúdo de um governo Mourão, imposto pela burguesia “civilizatória”? Seria, ao contrário do que diz Dino, uma barbárie total. Pela sua comemoração contra os “comunistas”, Mourão já deixou claro que não tem escrúpulos em agir contra os seus adversários: torturar, matar e reprimir seriam, na verdade, um passatempo para o general. Mas o problema é muito maior que esse: não só Mourão se mostrou inescrupuloso, como, na verdade, é justamente a sua falta de escrúpulos que faz com que a burguesia cogite que seu nome para substituir Bolsonaro caso o governo se torne inviável.


Bolsonaro, embora seja um fascista, é um político relativamente comum do “baixo clero” parlamentar: vive da demagogia com um segmento que lhe apoia. Neste caso, a classe média conservadora. Essa demagogia, por sua vez, impede que Bolsonaro, por um lado, aplique abertamente a política desejada pelos bancos, como ficou demonstrado no caso da demissão de Roberto Castello Branco da Petrobras. Por outro, dá a Bolsonaro força suficiente para ter uma certa independência da burguesia, o que a torna preocupada.


O único objetivo possível da burguesia em substituir Mourão por Bolsonaro é simplesmente garantir que o seu programa, que é de destruição total, sem espaço sequer para a demagogia, seja aplicado. E, como Mourão não tem nem demagogia para oferecer, só oferecerá os seus canhões.

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