No DCO:
A marcha do genocídio no Brasil segue firme e seus passos estão cada vez mais acelerados. Ao fecharmos esta edição do Diário Causa Operária, o Brasil já contabilizava números de fazer inveja a qualquer guerra entre nações.
O número de infectados se aproxima rapidamente dos 12 milhões, e o de mortos já beira a casa dos 300 mil. Somos o segundo país do mundo com mais mortes oficialmente registradas, atrás apenas dos Estados Unidos. A média móvel de mortes diárias por Covid-19 se encontra acima dos 2500 e ruma velozmente para os 3000. Só na última semana, o País registrou mais uma marca alcançada pela primeira vez: 15 mil mortes. O Brasil se tornou uma máquina macabra de recordes.
Essa contabilidade fúnebre não surgiu do nada. Ela é tão somente a expressão numérica de uma extensa cadeia de processos e decisões políticas que fornecem a base para esse estado de coisas que não pode ser chamado senão de catastrófico, caótico e hediondo.
Atualmente, o regime político do Estado burguês brasileiro está, na sua quase integralidade, dominado pela direita e pela extrema direita. Trata -se do resultado do golpe de 2016. O governo federal, os governos estaduais e as autoridade municipais, desde o início da pandemia, há mais ou menos um ano, não conseguiram nem por um momento sair da lama da crise. À crise econômica e social, de raízes mais antigas, se somou a crise trazida pela pandemia, e a reposta levada adiante pelos governos, seja em qual esfera for, não foi outra coisa a não ser uma nulidade total.
O imediato pano de fundo para esses números desastrosos é bastante conhecido. Mesmo a imprensa burguesa não se encontra em condições de ocultá-lo. Não há plano real e efetivo para a vacinação em larga escala da população. Não há infraestrutura adequada e capaz para a produção autônoma de vacinas. Aqueles elementos da direita que tentaram se passar por “científicos” e “combatentes pela vida” e que apostaram numa política de vacinação que se demonstrou não mais do que uma encenação, como é o caso do direitista João Doria, hoje estão profundamente desmoralizados, esmagados pela dureza da realidade.
Aplicadores leais da política neoliberal de corte de gastos estatais e ataques às condições de vida do povo, a direita levou o sistema hospitalar nacional ao colapso total. Os investimentos em leitos, hospitais de campanha, respiradores e outros equipamentos é ridículo. A situação é tão desastrosa que até mesmo a rede hospitalar privada, destinada prioritariamente à burguesia e à pequena burguesia abastada, se juntou ao caos geral. Vão se tornando comuns notícias que registram as mortes de pacientes nas filas de espera. E como qualificar as mortes derivadas da falta de oxigênio nas unidade hospitalares, como vimos em Manaus (AM)?
A essa crise de proporções monumentais os governos da direita responderam ou com a completa ausência de política ‒ é o caso de Bolsonaro ‒ ou com uma política de repressão e farsa ‒ como é o caso dos governadores estaduais, a exemplo de Doria.
Os governadores estaduais e prefeitos investiram na política de lockdown e toque de recolher, baseada antes de qualquer outra coisa num arremedo de isolamento social. Encena-se um esforço dos governantes para manter a população em isolamento, ao mesmo tempo em que se culpa essa mesma população por não aderir a um isolamento deliberadamente inexistente. Decreta-se o toque de recolher das 22h às 5h, mas entre as 5h e as 22h o que vemos é o espetáculo das multidões em trens, metrôs, ônibus e locais de trabalho abarrotados de gente. E, como se não bastasse, enquanto a farsa do lockdown era deflagrada, as escolas eram reabertas e as aulas presenciais, retomadas.
Esses e outros fatos deixam claro a questão: por parte da direita, não havia o menor esforço para garantir um isolamento social real, e muito menos havia o esforço e o investimento para vacinar massivamente a população e oferecer condições hospitalares minimamente capazes de enfrentar a pandemia. A direita, até agora, não conseguiu outorgar à população nada além de repressão e miséria. Essa política genocida, longe de ser o resultado inconsciente das boas intenções, é uma política consciente e deliberada.
A política de extermínio da população, no entanto, não deixa de aumentar a instabilidade e a tensão social. Os sinais e indícios de uma grande explosão social pululam aqui e ali. Encurralada entre a miséria econômica e a ameaça do coronavírus, as massas já começam a dar mostrar de reação. Nos últimos dias, notícias sobre saques a supermercados começaram a circular pela imprensa e redes sociais. Dado ainda mais concreto e contundente, a população paraguaia protagoniza há vários dias uma ampla e radical mobilização contra o governo da direita em seu país, governo que, tal como o seu congênere brasileiro, se mostrou absolutamente impotente para encaminhar o controle da crise social e sanitária no país. A revolta paraguaia indica de maneira clara a tendência presente no seio das massas brasileiras e latino-americanas, vítimas de uma só e mesma política genocida levada adiante pela direita golpista continental.
No Brasil, a crise também não poderia deixar de impactar o governo Bolsonaro e os governos estaduais. A recente crise no Ministério da Saúde de Bolsonaro, com a saída do general Pazuello, é um indicativo evidente disso. A saída do general deixou à vista a pressão que paira sobre o governo Bolsonaro. O caos na saúde obrigou o governo a dar uma resposta à crescente pressão vinda de baixo e revelou o desejo dos militares de se desassociarem do genocídio.
É preciso ter claro que os maiores responsáveis pela miséria e pelo caos no qual o País se encontra são os golpistas, tanto o bloco bolsonarista quanto a ala direitista mais tradicional. A situação de caos sanitário e econômico é obra da direita, e a população começa a dar indícios de revolta contra isso.
Mais do que nunca, cabe aos partidos e organizações dos trabalhadores fomentar a revolta e, além disso, dar forma organizada a ela. A paralisia e imobilismo das direções de esquerda precisam ser combatidas com todas as forças. Uma política de mobilização, de luta, baseada em manifestações e atos de rua, deve ser amplamente estimulada e posta em prática. Ficar em casa, num momento como este, não significa combater a pandemia nem impedir a circulação do vírus. Significa, isso sim, deixar nas mãos da direita e da extrema direita a iniciativa política e, mais ainda, se abster de travar uma luta sem tréguas contra a política de extermínio que os tradicionais inimigos do povo levam à frente agora. Sem mobilização contra a direita, não haverá combate contra a pandemia.
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