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Alagoas Território Livre

Lula não precisa de Bolsonaro para vencer

Por Marcos Coimbra, no 247:

Lula lidera as pesquisas por seus méritos, não pelos defeitos de Bolsonaro. A dianteira que tem não é função de o capitão ser aquilo que é, o traste que vemos, uma pessoa desprezível e um governante ridículo.

No meio político, em especial na mídia, ainda há quem insista na lengalenga de que Lula torce por Bolsonaro, deseja que seja ele o adversário e faz corpo mole em relação ao impeachment. Como se Lula quisesse enfrentar Bolsonaro, pois só assim ganharia.


Nada disso é verdade. Nenhuma pesquisa corrobora o raciocínio. Mostram é que Lula não precisa de Bolsonaro para vencer.


Nas pesquisas relevantes, o petista tem, hoje, algo em torno de 45% das intenções de voto, em qualquer cenário de primeiro turno. Nenhuma dá a ele menos que 55% no segundo, independente dos (muitos) nomes testados.


O ex-presidente alcançou esse tamanho faz tempo e o mantém faça chuva ou faça sol. Preso em Curitiba, vítima da farsa judicial encenada por Moro e seus rapazes, proibido de falar por um ato de força militar, sofrendo o ataque ininterrupto da mídia corporativa e alvo da mais intensa campanha de desmoralização que as Organizações Globo jamais desfecharam contra alguém, Lula, no final de agosto de 2018, tinha 39% das intenções de voto, segundo o Datafolha. Nessa pesquisa, feita entre 21 e 22 de agosto, a quarenta dias da eleição, Bolsonaro estava 20 pontos atrás, com 19%, a metade de Lula. Nem se fabricasse duas facadas teria chance de ganhar.


No que dependeu da vontade popular, Lula só enfrentou uma eleição difícil desde 2002, a primeira que venceu. Naquela altura, ainda havia uma parcela grande do eleitorado que simpatizava com ele, mas temia por seu passado politico e de trabalhador. Os velhos preconceitos de classe, cultivados pelos porta-vozes das elites (“Imagina o Lula, que não sabe falar inglês, tendo que dialogar com o presidente americano!”), somados à ficção de seu “radicalismo” (“Eu tô com medo!”), o atrapalhavam.


A maioria dos eleitores, resolveu, no entanto, desafiar preconceitos e medos e apostou que daria certo. Deu. Lula rapidamente se tornou um presidente querido e aprovado e, desde então, é considerado o melhor que o Brasil já teve, por nunca menos que 50% da população, vindo o segundo colocado, que variou ao longo do tempo, com nunca mais que 20%. Reelegeu-se com folga em 2006.


Nas duas eleições seguintes, Lula não venceu porque decidiu não se candidatar. Em 2010, parte grande da turma que hoje dá sustentação parlamentar (instável) ao capitão estava à disposição para aprovar emenda à Constituição que assegurava ao presidente a possibilidade de concorrer a um terceiro mandato consecutivo. Com mais de 50% das intenções de voto, as pesquisas mostravam que Lula ganharia com facilidade se a hipótese vingasse. Mas ele não topou e manteve as regras do jogo. Parecido com 2014, quando voltou a não participar como candidato da eleição, apesar de liderar as pesquisas, acreditando que a hora era de Dilma.


Há quem diga que Lula está com 45% porque não surgiu, “ainda”, uma opção de “terceira via”, coisa que só quem não conhece ou não consegue entender as pesquisas afirmaria. Em todas, são oferecidos os nomes dos postulantes a esse papel e, como pululam, os institutos chegam a incluir mais de uma dezena de hipóteses. Nenhum se destaca: na pesquisa recente do Ipec, Lula obtém sete vezes (49%) a intenção de voto do melhorzinho, que aparece em terceiro lugar, atrás do capitão (com 7%). Sozinho, o ex-presidente tem quatro vezes a soma de todos.

Estamos indo para a eleição de 2022 com Lula no seu tamanho histórico e, portanto, mais uma vez, favorito. A direita e a centro-direita não conseguem se desvencilhar do capitão, um candidato horroroso, mal avaliado e antipatizado. Substituí-lo tende, porém, a ser inútil, como as pesquisas deixam claro. A “terceira via” só tem nomes eleitoralmente frágeis, de baixo enraizamento popular e pouco conhecidos. Contra qualquer um deles, o favoritismo de Lula permanece.


Na democracia, embora exista, é pequena a chance de que esse cenário mude, e esse deveria ser o ponto final. Mas há outra possibilidade, com a qual temos que raciocinar hoje em dia: sempre pode aparecer um generalzinho querendo botar os tanques na rua e mandar os soldados atirar no povo. O País precisa reagir a isso o quanto antes.

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