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Alagoas Território Livre

E o Lula voltou, firme e forte

Por Emir Sader, no 247:

Até pouco mais de dois anos, o Lula ainda estava preso e condenado, excluído da vida política do Brasil. Houve gente, mesmo na esquerda, que aceitava as acusações contra ele, o considerava fora da vida política brasileira.


Quando ele se despediu de nós, no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, a maioria não queria que ele se apresentasse à polícia. Ele tinha decidido a ir demonstrar, nas fuças do Moro, a falsidade das acusações a ele e a farsa da Lava Jato.


Só que ele achava que ficaria preso alguns dias. Teve que se acostumar à ideia de que ficar muito mais tempo. Ficamos na Vigília o tempo todo com ele, esperançoso sempre de vê-lo sair daquelas malditas instalações. Quando o visitamos, o encontramos firme e confiante de que sairia e voltaria firme à luta.


Mas foram longos e intermináveis 580 dias e 580 noites na solidão da cela injusta e cruel que o Lula teve que suportar para provar sua verdade. Por isso também sua saída tem que ser celebrada como uma vitória da verdade, da tenacidade e do caráter de um homem que coloca sua pele para provar suas convicções.


A vida do Brasil parecia se acostumar com aquela barbaridade. Alguns a celebravam abertamente e se valiam dos espaços que tem na mídia para criminalizar o Lula como corrupto, comemorar sua exclusão da vida de um país, que seria melhor sem ele, na voz dos verdugos.


Houve também quem, no campo da esquerda, aceitou as acusações ao Lula, assumiu a Lava Jato e passou a criminalizar o PT, de forma não apenas equivocada, como oportunista. Gente que sabe que, com o Lula e o PT, sobra pouco espaço para eles e para outros eventuais candidatos a ocupar um espaço gigantesco deixado livre sem o Lula e o PT.


Por isso, a saída do Lula daquele odioso edifício da Polícia Federal de Curitiba, dia 9 de novembro de 2019, tem que ser comemorado como um dia histórico na vida do Brasil. Porque representa a vitória da verdade e da força pessoal do maior líder que o país já teve.


Daí a emoção de reencontrar o Lula de novo no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, o primeiro lugar a que se dirigiu, voltando ao lugar de ontem ele tinha saído, para dizer que tinha cumprido metade da sua promessa: recuperou sua liberdade. Faltava desmascarar os que o haviam levado a ser preso e condenado, mesmo inocente. Abraçá-lo de novo confirmava a certeza de tudo pelo que tínhamos lutado na Vigília naqueles 580 dias. Vê-lo sair de São Bernardo,

conduzido por policiais para a solidão da prisão em Curitiba foi das imagens mais dolorosas que pudemos ver e viver na nossa pele, com a impotência de deixá-lo só naquele momento.


Mas ele provava que tinha estado certo em se apresentar. Que ele não queria ir para a clandestinidade e ser tratado como um foragido. Nem sair do país e ser tratado como um prófugo. (Na Caravana do Sul nós chegamos a cruzar a fronteira para comer uma carne do lado do Uruguai. Ele sabe que, se decidisse ficar ali, seria recebido com todo o carinho pelo povo uruguaio, mas nunca lhe passou pela cabeça sair do Brasil. Aquele cruze de fronteira era mais um fato culinário do que político. E voltamos para seguir na Caravana.)

Aquele 9 de novembro foi histórico também porque começou a recolocou o Lula na história política brasileira e a reacender no coração dos brasileiros a esperança de que seria possível resgatar o país da pior crise da sua história.

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