Por Victor Assis, no DCO:
O tucano Bruno Covas, prefeito de São Paulo, já não existe mais. De acordo com boletim médico divulgado pelo hospital Sírio-Libanês, o quadro de Covas, internado por causa de um câncer, é irreversível. Quer dizer, seu corpo continuará recebendo sedativos e analgésicos até que seus sinais vitais cessem de vez. Fim da linha.
Para os marxistas e para os trabalhadores em geral, essa notícia, em si, não tem importância. Covas foi um monstro, um direitista que seguiu a tradição de seu avô, Mário Covas. No entanto, o mundo não fica melhor, nem pior sem ele. O povo paulista perde um prefeito genocida, que matou 29 mil pessoas, e ganhará outro no lugar. E nem mesmo nos daremos ao luxo de contar com os “acidentes” que às vezes ajudam a empurrar a história para a frente. A retirada de Covas foi planejada, seu vice foi escolhido para ser prefeito desde o momento em que a chapa foi montada.
As monstruosidades de Covas só serão superadas, portanto, quando as massas se sublevarem e acabarem não com um ou outro tucano, mas com toda a fauna de bestas feras da burguesia. Quando arrancar todos os golpistas como Bruno Covas do controle do Estado e passarem a ser, elas próprias, donas do próprio destino. Até lá, a morte desses vigaristas, entre os quais podemos incluir também Levy Fidélix e o Major Olímpio, não passam de um conforto ilusório de quem comeu o pão que o diabo amassou na mão desses canalhas.
É ilusão pensar que a morte cada vez mais próxima de Bruno Covas melhorará em alguma coisa a vida da população. Mas se há quem se conforte com isso, qual o problema também? É um instinto mais do que natural ver-se aliviado quando seu algoz já não pode mais lhe causar mal.
O que é absurdo, no entanto, é tratar Bruno Covas como um santo, como um herói, como um homem de caráter e integridade. Celebrar a morte de Covas é um analgésico, um paliativo para o oprimido que vê esperança de as chicotadas cessarem. Torná-lo um mártir, no entanto, é sinônimo de, na melhor das hipóteses, muita embriaguez, de alucinação. Ou simplesmente de mau-caratismo.
É o que a imprensa capitalista está fazendo. O artigo escrito por Ricardo Noblat, um dos mais asquerosos jornalistas da imprensa burguesa, é de fazer rir. Noblat diz que Covas deixou “exemplo de coragem e de transparência no tratamento de sua doença” e que “o fim da vida para o prefeito de São Paulo Bruno Covas (PSDB), 41 anos, poderia ter sido de menos sofrimento e maior satisfação para ele, família e amigos se não tivesse sido candidato à reeleição”.
De fato, Covas sabia que iria morrer em breve e dedicou seus últimos meses à atividade política. Mas não há nobreza ou coragem alguma nisso. Pelo contrário, há cinismo e covardia. Covas continuou na política até definhar completamente porque foi obrigado pela burguesia a fazê-lo. Porque defendia não um projeto para o País, mas sim a própria pele. Todo político burguês é uma prostituta, que faz tudo o que a burguesia manda, até mesmo vender a própria mãe se assim for solicitado. Covas cumpriu o seu papel.
Covas ganhará, da burguesia, funerais de honra. Será aplaudido, recompensado por ter doados seus últimos momentos à política. Bom para ele. Ou nem tão bom, porque também ele não assistirá ao próprio funeral. Por outro lado, quem perdeu com essa palhaçada toda foram os milhões de paulistanos.
Por que era importante para a burguesia manter Covas na política? Isso o próprio artigo de Noblat explica: “a doença e a disposição de desafiá-la com bravura e total transparência fez Covas crescer aos olhos dos paulistanos”. Não, Covas não se tornou popular porque teve câncer. Mas o câncer serviu para que a burguesa organizasse uma jogada de marketing para eleger seu candidato. “Covas, o sofrido”, “Covas, o homem que combateu o câncer” e tantos outros “Covas” pintados pela Rede Globo acabaram triunfando, mesmo o PSDB sendo odiado amplamente.
O resultado dessa operação está aí, para todo mundo ver. São mais de 29 mil óbitos, provocados pela política do trio Covas-Doria-Bolsonaro, que promoveu a reabertura do comércio e das escolas, que não vacinou nem testou a população, que não construiu hospitais, que não fez nada! O fato de ele abrir a 30.000ª cova para si próprio não faz do tucano um mártir, mas sim um assassino feroz.
As mortes pelo coronavírus não são a única marca deixada por Covas. Em todos os aspectos, ele foi a representação de toda a podridão e barbárie que é a burguesia brasileira. Mandou jogar água gelada nos moradores de rua, cortou verbas, maltratou os professores e organizou despejos, em plena pandemia, que contrariavam até mesmo uma decisão do ultrarreacionário STF!
Apenas entre janeiro de 2020 e maio do mesmo ano, a Polícia Militar, comandada por Doria e Covas, mataram nada menos que 119 pessoas. Se a proporção tiver se mantido, mais de 300 pessoas terão sido assassinadas sumariamente pelo aparato de repressão. Para os que escaparam da polícia e do coronavírus, a situação também não é nada boa. Durante a gestão Doria-Covas, que teve início em 2017, o número de pessoas morando nas ruas aumentou mais de 50%, chegando, em 2019, a mais de 24 mil pessoas. Se acrescentados os moradores de ocupações, são mais de 30 mil sem moradia. Não foi feito ainda um levantamento mais recente, mas é visível que esses números aumentaram drasticamente na pandemia.
Tudo isso, obviamente, não por um capricho pessoal, mas a mando de seus cafetões. Somente na campanha eleitoral, Covas recebeu R$75 mil (oficialmente) do Banco Safra e R$200 mil da Crefisa, entre outros banqueiros. De empreiteiros, recebeu nada menos que R$725 mil: R$200 mil de financiamento de José Ricardo Rezek, do grupo Rezek, R$175 mil de Ernesto Zarzur, da EZTEC, R$100 mil de Elie Horn, da Cyrela, R$100 mil de Alvaro Antonio Alfredo Coelho da Fonseca, do grupo Coelho da Fonseca, R$50 mil de Marcello Arduin, da Monollito, R$50 mil de Antonio Setin, da Setin, e R$50 mil da AK Realty.
A Rede Globo agora chora por Bruno Covas porque é a continuação de sua operação. Usou o câncer de seu cãozinho de estimação para fraudar uma eleição, agora tentará comover a população para que aguente o que vem pela frente: um psicopata como todos os prefeitos tucanos de São Paulo. Ricardo Nunes, até o momento filiado ao MDB, é um direitista ligado à Igreja Católica — mais um santo! —, que defende o Escola sem Partido e que participou da “máfia das creches”. Mas ninguém poderá criticar Ricardo Nunes, caro leitor, porque agora é hora de chorar pelo homem que operava a câmara de gás paulistana!
O circo da burguesia é, em si, bizarro e nojento. Nenhuma novidade, a burguesia é uma classe decadente, da qual não se pode esperar algo de bom. Mas, como sempre, ela não está sozinha…
A esquerda pequeno-burguesa, moralista até a medula e puxa-saco da burguesia, viu na morte de Covas mais uma oportunidade de mostrar como é bem comportada. Aqueles que acham que agora é a hora de mostrar-se solidários a Covas podem não perceber, mas estão entrando em uma campanha. A burguesia não chora por ninguém, está em permanente campanha por seus interesses. E o objetivo da campanha “chore uma lágrima por Bruno Covas” é garantir mais 4 anos de mandato do PSDB em São Paulo.
Uma campanha, inclusive, que já vinha sendo preparada há tempos. Note, caro leitor, que a foto que ilustra essa coluna é a única foto de Covas com Bolsonaro. E quando foi tirada, Covas fez questão de dizer que apenas tirou a foto “por educação”. Quando empossado prefeito, no início de 2021, o tucano fez um discurso dizendo que travaria uma luta “contra o negacionismo”. Covas foi pintado como um moderado, como um homem diplomático, que poderia ser respeitado pela esquerda. Chegou, inclusive, a nomear como secretário de Habitação um filiado do PT! Seu terno pode ser bonito, seu relógio pode ser importado e sua barba pode estar bem feita, mas Covas é o que os números falam que é: um genocida.
É por isso que ninguém tem a obrigação de chorar por Bruno Covas. Deixemos a Rede Globo, que o ama tanto a ponto de prostitui-lo até a beira da morte, chorar todas as lágrimas que quiser. Deixemos o prefeito tucano para ser lembrado por Hitler, Mussolini e Médici, que, quando ouvirem Satanás gritar “Bruno Covas”, responderão “presente, hoje e sempre”. Para os trabalhadores, sua memória deverá ser atirada à lata de lixo da história, junto com todos os golpistas.
É hora, companheiros, de guardar todas as energias não para chorar por Covas, mas para preparar a derrubada de nossos inimigos. É hora de seguir o caminho desbravado pelo ato de primeiro de maio, organizado pelo PCO e pelos comitês de luta. Vamos em frente, preparar um grande dia nacional de mobilização no dia 29 de maio por tudo aquilo que Covas negou: vacina, emprego e auxílio emergencial!
Comments