No DCO:
A decisão tomada pelo Comandante do Exército Paulo, Sérgio Nogueira de Oliveira, respaldada pelo Alto Comando da Força, de não punir o general Pazuello por participar de um ato político-partidário com o presidente fascista Jair Bolsonaro (ex-PSL, sem partido) abriu uma crise no bloco político burguês.
Desde que Bolsonaro assumiu a presidência da República, como resultado do golpe de estado de 2016 e da fraude eleitoral de 2018, a burguesia traçou uma política cujo eixo central é “colocar Bolsonaro na linha”. Os ataques por parte da imprensa capitalista ao governo federal mostram que a linha colocada em prática era essa.
O grande receio é que o presidente fascista consiga obter uma independência da estreita linha política traçada pela burguesia para controlá-lo. O fato de ele se apoiar nas forças armadas e ter mais de 12 mil militares da ativa e da reserva em todos os escalões do governo federal sempre foi visto com preocupação. Contudo, para minimizar o apoio dos militares ao governo, dizia-se que os militares eram da reserva, aposentados, “apolíticos” e que não tinham influência sobre a tropa.
A mitologia política da direita declarava que as forças armadas eram “instituições de Estado”, “profissionais” e impermeáveis às pressões políticas que refletem a luta de classes na sociedade. O caso Pazuello demoliu, de uma vez por todas, esses mitos. O Alto Comando das forças armadas aparece pelo que, na realidade, é: o núcleo-duro do bolsonarismo, uma verdadeira chocadeira do nazifascismo.
Os militares da ativa e da reserva tiveram papel de destaque na articulação golpista de 2016 e participaram na fraude eleitoral de 2018, que se consumou com a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em determinados momentos, os generais do Exército deram declarações públicas que ameaçavam o País, caso Lula fosse solto e pudesse concorrer às eleições. O profundo envolvimento com o governo Jair Bolsonaro demonstra que se há algo que os oficiais do Exército, Marinha e Aeronáutica fazem, é a política. Se há algo que se faz nos quartéis, além de se treinar para reprimir o povo, é política.
O receio da burguesia, expressa pelas matérias nos jornais da imprensa capitalista, é que o exemplo Pazuello sirva como um estímulo para que os praças (soldados, cabos e sargentos) também se envolvam abertamente na política. Isto é, para os oficiais superiores (coronéis e generais), ligados por mil fios à classe dominante, é tolerável a participação na política, desde que se faça isso discretamente. A participação de Pazuello nos atos bolsonaristas acaba por escancarar o que a burguesia se esforça para esconder.
Os praças não têm os mesmos interesses e condições de vida do que os oficiais superiores das forças armadas. Em contextos de grande polarização política, de intensificação da luta de classes, a experiência histórica demonstra que as forças armadas tendem a se dividir em linhas de classe, entre burguesia e proletariado. A crise no interior da burguesia reflete o medo da divisão das forças armadas e o alinhamento dos praças com a esquerda, principalmente com a aproximação das eleições presidenciais de 2022.
Há contradições entre os distintos setores da burocracia militar, a base de pirâmide e o vértice. A pressão da burguesia pela punição de Pazuello, que não aconteceu, visava passar o recado de que os militares não poderiam participar das atividades políticas, no caso, da esquerda. O que a classe dominante não quer é a politização pela esquerda nas bases das forças armadas.
É preciso destacar que os militares, todos, devem ter os direitos democráticos garantidos. Devem ter o direito de filiação partidária, de se manifestar publicamente sobre a situação política do país, de organizar sindicatos e se mobilizar pelas reivindicações que consideram justas. O Alto Comando faz política, mas aos praças é vedado esse direito.
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