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A Globo não deu, Lula não falou

Lula não falou durante 24 minutos em redes de TV, seu discurso não foi reproduzido pelo Valor, pelo Estadão, pela Folha. Nada disso aconteceu, porque a Globo decidiu que não se deu.


Por Emir Sader, no 247:

Foi um 7 de setembro normal. Sem desfile militar desta vez. Com fala de milico do presidente. Balanços das vítimas da pandemia, com culpa dos que vão às praias e não do governo. Sem os que tem que circular de ônibus e trens, não por opção ou para passear, mas para trabalharem ou buscarem trabalho, que é onde a pandemia realmente se propaga e se concentram os mortos.


Não houve o discurso do Lula. Pelo menos a Globo não deu, achando que ainda estava na época da ditadura, quando o que a Globo não dava, não existia.


Existiam os discursos oficiais dos milicos e do Delfim, no máximo havia fotos dos subversivos que teriam resistido à prisão e caíram baleados. Ninguém era torturado, não havia prisões arbitrárias, nem julgado indevidamente.


A Globo tinha se acostumado ao que ela não refletia, da sua maneira, a realidade. Mas ela produzia a realidade, gerava a realidade. A realidade oficial, que era a que interessava projetar.


Na sua esquizofrenia atual, a Globo não noticiou o discurso do Lula, apenas o do Bolsonaro. A Globo não deu, o Lula não falou.


Lula não falou durante 24 minutos em redes de TV, seu discurso não foi reproduzido pelo Valor, pelo Estadão, pela Folha. Nada disso aconteceu, porque a Globo decidiu que não se deu.


Sob o impacto do extraordinário discurso do Lula, que abordou, - como nem ela , nem os outros meios de comunicação tradicionais abordam – todos os grandes problemas que vitimizam o país. Com o diagnóstico e a via de superação desses problemas.


Nada disso existiu. Devemos ter sonhado com o Lula falando o que queremos ouvir, o que gostamos de ouvir e o que eles não gostam e não querem ouvir. Será por isso que a Globo desconheceu a fala do Lula?


Ou será por que não saberia o que dizer, o que criticar, o que agregar, como desqualificar, ainda mais diante do besteirol oficial do presidente de turno? Ou será por que não se refez ainda do choque do Lula dizer tantas verdades? 


Mas a Globo não dá, ainda assim o discurso do Lula existe, o Lula existe, como o maior líder político do Brasil, cuja palavra tem a credibilidade que a Globo perdeu, lá atrás, na época em que reinava soberana, na ditadura militar?


O que andou pela cabeça dos chefões da Globo? Como comunicaram que o discurso do Lula não existiu aos redatores, apresentadores e comentaristas? Os apresentadores não poderiam dizer que o Lula falou, porque o Lula não falou. Os comentaristas não poderiam comentar o discurso que não existiu. Ninguém seria entrevistado para falar sobre um discurso que não se deu. 


A realidade não existe se não cabe no discurso estreito da Globo. Lula foi convidado a dar entrevista para a Globo, mas se negou. Então não falou ontem, não disse nada, os outros meios de comunicação, do Brasil e do exterior, deram eco ao que não aconteceu.

Deveriam ter consultado a Globo, antes de reproduzir um discurso que não houve.


Mas a realidade teima em existir, mais além da vontade e das necessidades da Globo. Lula falou, fez um discurso extraordinário, que teve uma repercussão formidável, que trouxe ânimo e horizontes para todos os que não apenas estão contra esse presidente, mas contra todo o seu governo.


O dia amanheceu, apesar da Globo. A fala do Lula repercute e ocupa o espaço central da luta política pela restauração da democracia. Lula se lançou como candidato, apesar dos que acham ainda que podem decidir o que existe e o que não existe.


Lula falou, a Globo não deu, mas milhões ouviram e se sintonizaram com a fala do Lula. A Globo existe, mas já não é mais aquela.

 
 
 

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