Jair Bolsonaro empreende uma louca cavalgada em favor da cloroquina que de louca nada tem. Provavelmente, muito lucrativa.
Seu patrão Donald Trump, a quem a caneta mais esvaziada do Brasil já declarou “I love you”, é acionista do gigantesco laboratório Sanofi, fabricante do remédio.
No Brasil, o laboratório que o produz é propriedade de um milionário bolsominion, de militância aberta e radical na defesa das bandeiras obscurantistas de seu mito.
No pronunciamento de ontem à noite, em rede nacional de rádio e TV, após ser humilhado pelo infectologista David Uip, Bolsonaro se superou.
Uip faz dias vem sendo atacado pelos sicários digitais do bolsonarismo, dentre eles o general Heleno (que furou a quarentena com a enfermidade já diagnosticada) e o ex-embaixador-viúva-Porcina (o que foi sem nunca ter sido) Eduardo Bolsonaro.
Querem que ele diga se usou a miraculosa cloroquina. David Uip respondeu duramente que não costuma, por ética, comentar procedimentos médicos e processaria a publicação criminosa de documento subtraído de seu prontuário.
Doeu. E Bolsonaro passou recibo.
Convocou uma cadeia nacional de rádio e televisão para fazer lobby por sua poção milagrosa e para exaltar o antípoda de Uip no mundinho médico, o midiático cardiologista Roberto Kalil Filho, chefe do Sírio-Libanês, do Incor e do Hospital das Clínicas.
Relatou ter sabido das experiências do doutor Kalil com a cloroquina e de como ele utilizou a droga para curar-se.
A Folha de S. Paulo anunciou que o médico de Kalil “afirma que ele usou cloroquina sem o seu aval”.
E o pneumologista Carlos Carvalho, professor da USP e subordinado de Kalil no Sírio-Libanês, afirmou textualmente que “Kalil perguntou, após conversar com outros membros da equipe médica, se deveria incorporar a cloroquina”.
“Carvalho respondeu que não concorda com o uso do remédio para isso no momento, mas que não se oporia ao colega”. E arremata: “Cientificamente, estou certo de que ainda não há estudos que comprovem a eficácia da cloroquina contra o coronavírus”, diz Carvalho.
“Não há como dizer que foi a cloroquina que ajudou o Kalil. Ele tomou outros remédios além dela”, completa. “Eu mesmo tive coronavírus, tomei Novalgina e outros remédios e estou curado. Vou dizer que a Novalgina cura coronavírus?”
Ao R7, o portal da Record, Kalil foi mais taxativo.
“Eu acredito que esse conjunto de tratamento impediu minha ida para a UTI”, disse a respeito do coquetel que incluiu a hidroxicloroquina.
Kalil foi usado por Bolsonaro? Ou se deixou usar?
Os antecedentes mostram uma proximidade inquietante com o poder.
Ele foi afilhado de casamento do ditador João Figueiredo, amigo do pai dele. Três décadas depois, casou-se e seus padrinhos foram Lula e Dilma, seus pacientes.
Na festança, que causou frisson no soçaite paulistano, se acotovelavam José Serra, Paulo Salim Maluf, Geraldo Alckmin, empresários, colunáveis e alguns colegas.
Do lado de fora, o MBL e outros movimentos fascistas, entoavam impublicáveis slogans e palavras de ordem contra Dilma, que já caminhava para o cadafalso.
Kalil cuidou de Temer quando este assumiu a cadeira de Dilma. O amigo Lula estava preso em Curitiba e seu neto preferido, o pequeno Arthur, morreria num atendimento de saúde pública em São Bernardo do Campo, bem longe do Sírio-Libanês.
Enviou médicos a Juiz de Fora quando Bolsonaro foi esfaqueado, segundo a Piauí. A ideia era fazer com que o então candidato se tratasse no Sírio. O sujeito acabou no Einstein.
Agora surgiu a oportunidade de, novamente, o doutor Kalil ser amigo do presidente, quem sabe até ser seu médico.
Mas a coisa não foi de bom jeito… O presidente já não é tão presidente. O tal remédio não é como se diz. Não há cura possível para o bolsonarismo.
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