O ator José de Abreu, conhecido por suas posições contra o golpe de Estado e contra Jair Bolsonaro, declarou sobre a presença da atriz Regina Duarte na Secretaria de Cultura do atual governo de extrema-direita: “Vagina não transforma mulher em ser humano”. Em outras palavras, fascista não deixa de ser fascista só por ser mulher.
A declaração de José de Abreu, correta, vai na contramão de alguns setores da esquerda burguesa, como a ex-mulher de Caetano Veloso, Paula Lavigne, que afirmou que “Regina Duarte é de direita mas não é nazista”, ignorando assim que o governo Bolsonaro de conjunto é fascista e que a própria Regina Duarte tem sido um expoente de tudo o que de fascista foi feito na política brasileira desde o golpe de Estado e antes dele.
Alguns poderiam achar chula a frase de José de Abreu, mas não há nada errado no seu conteúdo. A crítica à atriz Regina Duarte é exata. Fazer parte de um governo fascista, que está dedicado a atacar as mulheres, os negros, o povo pobre em geral, é mais do que suficiente para demonstrar que a atriz da Globo é uma fascista como o restante do governo e que o fato de ser mulher é apenas uma cobertura muito mal feita. Regina Duarte é uma das maiores inimigas das mulheres justamente por ser aliada desse governo.
Mas há um fator interessante na repercussão da declaração de José de Abreu: uma aliança informal se estabeleceu entre uma esquerda identitária e a direita golpista.
A direita aproveitou para usar cinicamente o identitarismo de setores da esquerda para afirmar que José de Abreu teria sido “machista e misógino”. Logicamente que não passa de puro cinismo para desviar o foco da crítica feita por José de Abreu e atacar o ator. Tanto é assim, que até o Secretário da PGR quer que o ator responda por “ter ofendido todas as mulheres brasileiras”, o Ministério Público Federal foi acionado e o ator pode ser perseguido simplesmente por ter falado alguma coisa, ou seja, novamente o problema dos “limites da liberdade de expressão” foram usadas para perseguir a esquerda. A justificativa é idêntica à usada por setores da esquerda que pedem a censura: a “ofensa”.
A identidade esquerda pequeno-burguesa identitária e direita fascista é revelada na sua mais completa perfeição. Mas não é apenas isso. As ditas feministas e identitárias também atacaram José de Abreu por ser machista.
Dessa maneira, essa esquerda desconsidera o fato de que Regina Duarte é parte de um dos governos mais inimigos das mulheres que o País já teve. Mas a esses setores da esquerda preferem livrar Regina Duarte e atacar José de Abreu. Com isso, não apenas fazem coro co a direita cínica como dão munição para a direita atacar Abreu e inclusive persegui-lo politicamente e judicialmente.
A política identitária da esquerda pequeno-burguesa mais uma vez revela-se como um complemento da política da direita de censura e perseguição.
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